sexta-feira, 1 de junho de 2012

dos plenos poderes do (nosso) treinador

 
© Getty Images | uefa


Caríssima(o),

por muito que o título o possa sugerir, aquele refere-se à minha análise à entrevista concedida por Vítor Pereira, na passada Segunda-feira, ao jornal diário desportivo OJOGO e ao "Porto Canal".
pelos eventuais (des)enganos e (mais do que prováveis) erróneas suposições, expresso, desde já, as minhas desculpas. como já o referi, encontro-me de férias e as análises ao que de melhor se publica no pasquim da Travessa da Queimada regressarão a partir de 11 de Junho...

a dita segue dentro de momentos, logo a seguir à despedida formal e servirá para memória futura.
não a transcrevi na íntegra - apenas as partes que considerei mais importantes. mesmo assim, é extensa. e não é por tal que deixa de ser menos interessante, bem pelo contrário.
nela, Vítor Pereira abre o seu coração aos adeptos, mais do que aos críticos.
para os primeiros, revela alguns dos segredos do balneário azul-e-branco, (in)tentando explicar as razões por que a época desportiva claudicou em momentos-chave, como, por exemplo, nas competições europeias. também não foge à responsabilidade de assumir as inBenções que operou ao longo da época, justificando-as. também abre o jogo sobre o que espera de algumas das mais-valias do nosso plantel - casos de Lucho, James e Moutinho (sendo que se pode aferir que Hulk é uma carta fora desse baralho).
para os segundos, desculpa-se pelo seu discurso soar a (provavelmente) mais do mesmo...

para mim, só tive pena que os jornalistas de serviço não tenham ido mais além.
por exemplo, que não tenham questionado o treinador da equipa principal do FC Porto sobre a possibilidade de já haver uma incrível alternativa à perda daquele que foi indubitavelmente o suporte da equipa ao longo da última época. «Gostaria que continuasse mas, se não for possível, teríamos de dinamizar o ataque de outra forma», afirmou Vítor Pereira. sem "dar trunfos aos adversários" de forma gratuita - e não sou ingénuo a esse ponto para o pedir -, seria interessante aprofundar a «forma» como pensa dinamizar o nosso ataque sem o Hulk. afinal não foi ele que também afirmou que «Se quisermos falar sobre Futebol, eu falo e argumento, seja com quem for, porque experimento e reflicto no terreno»?

outro tema que, no meu entendimento, passou em claro é sobre as suas expectativas em torno da futura "equipa B" e se, em época de crise e de contenção orçamental, apostará mais em jovens promessas da nossa formação - já para não referir o caso de Iturbe... -, e em que moldes.
é que, para mim, ler que «O meu trabalho é o colectivo e, dentro deste, há jogadores que crescem mais e que aproveitam as oportunidades». não basta; o entrevistador tem que ser "incómodo", por exemplo: perguntar se já definiu o esqueleto-base do próximo plantel, equilibrando-o nos sectores onde este se encontra deficitário - meio-campo e ataque - e superavitário - baliza, pedindo para ser concreto (e mais do que aventar nomes de jogadores). e ao escutar da boca do treinador principal que pretende um avançado «que não diminua os pontas-de-lança que já temos» há que "os" ter no sítio para, nesse momento, perguntar de que forma é que os que estão no plantel se possam sentir «diminuídos»? será porque considera que não têm qualidade?

mas, no cômputo geral, gostei do que (re)li e tenho confiança de que o Futuro - o nosso Futuro mais próximo -, será positivo.
mesmo tendo sido (bastante) crítico de Vítor Pereira, reconheço-lhe capacidades (técnicas e humanas), pelo que faço votos para que, partindo "do zero" na planificação da próxima época, a encare como um desafio aliciante para vencer e que se motive para superar a que findou - e como lhe fiz ver na última carta aberta que lhe dirigi

em suma, tratou-se de « Uma entrevista moderada e modelar, que deveria ser consumida da mesma forma. Feita sem pressão deixou o homem mais à vontade. Reveladora. Positiva. Mas sem protagonismo para que o título parece despertar », como (e muito bem!) escreveu o Zé Luís no "portistas de bancada".

para finalizar, eis algumas das frases que, no meu entendimento, são as mais emblemáticas nesta entrevista:
«O Presidente foi o primeiro a manifestar-me total confiança no nosso trabalho»
«Quando o barco navega em águas calmas, qualquer um é líder. O problema é ter liderança em contextos de adversidade.»

«Pôr em causa o treinador é uma forma de desestabilizar um clube que tem ganho tantos títulos, porque o ganhar desgasta, mas desgasta os outros e não se olha a meios para atingir fins»

«Sem competência não há quem resista; a "Estrutura" pode ser muito forte, mas sem competência não há hipótese...»

«Estive firme nas minhas convicções, só assim conseguimos chegar ao fim e ganhar o campeonato. E com todo o mérito! Não é só demérito dos outros

«Apesar de os jogadores serem os mesmos, não eram os mesmos...»

«Quem me transmite confiança no trabalho, eu conto com ele.»

«O crescimento que eu tenho de promover é o crescimento colectivo.»

«A função de um treinador é aproveitar o talento sem colocar em causa a equipa
«A minha perspectiva de treino não é organizar o meu jogo. Se assim fosse, estaria limitado àquilo que sou capaz de imaginar.»
«Quando se sente que o desafio não é desafiante, temos um problema. Foi o nosso maior problema, aliás: dar uma dimensão desafiante aos jogos teoricamente menos complicados. »

«A Europa obriga-nos a ser uma equipa culta e adulta nos vários momentos do jogo.»


beijinhos e abraços (confiantes)!
e Muito Obrigado! pela tua visita :)




 
© jn.pt

«

Admite não ter a capacidade oratória de André [£ibras-Boas], mas garante que o que diz no balneário é Lei. 
Sem negar que teve dificuldades iniciais, explica que começou "de mansinho" para poder terminar melhor do que a concorrência e ao "sprint", mas reconhecendo que as principais adversidades até estiveram dentro de portas. 
No final, conclui agora, os resultados validaram a sua liderança.
 
Na sua apresentação como treinador principal, apelou à tranquilidade dos adeptos e prometeu «qualidade de jogo e resultados». Sente que cumpriu? 
Em termos de qualidade de jogo tivemos momentos em que a apresentámos, outros em que não. Mas procuramos sempre, com o nosso trabalho, comportamentos que nos pudessem dar um jogo circulado, de pressão. Por circunstâncias várias, houve alturas em que não fomos capazes de o apresentar, de ter essa intensidade.

Consegue especificar essas circunstâncias?
Tenho a sua noção clara. Primeiro, as expectativas elevadíssimas dos jogadores depois de uma época como a que tínhamos feito. Isso elevou as expectativas de toda a gente e o foco e a concentração dispersaram-se um bocadinho. Não foi fácil assentar e focar os jogadores no nosso jogo e nos nossos objectivos, o que é natural no ser humano...
Depois de uma época brilhante, perspectivavam outros campeonatos
para a sua vida, mais competitivos. Houve mais do que um momento em que "isso", para mim, foi notório.

De que momentos é que se está a lembrar?
Logo no início, na pré-época, que se foi prolongando pela mesma, e na reabertura do mercado. São coisas que mexeram com a nossa época... 
Acrescente-se a "isto" uma perda fundamental na dinâmica de jogo, que foi a perda do Falcao, a nossa referência atacante. [A sua ida para Madrid] Deixou-nos sem tempo e o Kléber, apesar da sua qualidade, precisava desse tempo. Faltou-nos a referência para o jogo interior, alguém com quem as coisas já saíam naturalmente, permitindo uma qualidade de jogo na área...
Foram aspectos fundamentais, para mim, e que nos fizeram oscilar.

O presidente disse, já no final da temporada, que o Vítor Pereira teve de lidar com jogadores que se achavam os melhores do mundo. Porque é que essa revelação só foi assumida a posteriori e que trabalho teve o treinador durante a época na gestão destes egos?
Basta irmos ao Passado para percebermos que esta questão é intrínseca ao ser humano. É naturalíssimo. Depois de grandes conquistas, os jogadores sentem-se valorizados, sentem que é a oportunidade deles. Eu não posso apontar rigorosamente nada em termos de profissionalismo aos meus jogadores. Nada! Mas admito que, inconscientemente, perceberam que o Mercado funciona e que, depois da saída do Falcao, houve uma certa dispersão. Nós vivemos com isso e lutámos contra esse problema... Procurámos resolvê-lo... 
Acredito que houve momentos em que isso nos afectou, mas acabámos consistentes e, nos jogos em que foi preciso que aparecêssemos, as coisas acalmaram e provámos claramente a nossa competência.

Concorda que tem dificuldades em passar mediaticamente uma mensagem forte e cativante?
Percebo claramente essa crítica. Não sou um grande orador, sou uma pessoa reservada e gosto de estar sozinho, preservo a minha pacatez e não posso mudar a minha personalidade... Não posso representar... 
O André [£ibras-Boas] tem um discurso diferente, é uma pessoa diferente, até porque tem menos dez anos do que eu. Mas o André tem uma forma de comunicar forte e eu não sou um comunicador do nível dele. 
Se calhar, deixei-me influenciar e quis ser algo que não sou. Não estava à vontade naquele papel e falhei. Cometi erros de comunicação no início. Eu próprio olhava para mim e dizia: "Tu não és assim!". Admito que inicialmente não respeitei a minha natureza. 
Em relação ao discurso forte, para dentro, se não o tivesse nem chegava ao FC Porto. Perguntem aos jogadores que eu liderei. Quando o barco navega em águas calmas, qualquer um é líder. O problema é ter liderança em contextos de adversidade. Se eu tivesse sido mais agressivo, só teria durado dois meses no FC Porto, não tinha passado disso. Tive de ser flexível até as peças do puzzle se juntarem.

Teve sempre esse controlo interno? Houve episódios com dimensão pública, nomeadamente algumas reacções a substituições...
Mas no ano anterior não houve esse tipo de reacções?! E não foi só uma, foram várias! Mas não se falou, porque se ganhava... 
Todos querem jogar e quem anda emocionalmente instável tem reacções emocionais desproporcionadas. Asseguro que não estive perante uma situação muito grave. Trabalhámos nos limites da emoção, da pressão, da competitividade... Os jogadores são "animais competitivos" e por uma ou outra vez, têm de extravasar...
Vindo de uma II Liga, se chego ao FC Porto com uma "liderança de chicote", tinha durado dois meses. Não tenho dúvidas nenhumas disso. Fui flexível, foi o que foi e que teve que ser...


 
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Durante o ano foi muitas vezes anunciada a sua saída inevitável ou acordos com o presidente no sentido de só ficar se fosse campeão. 
Houve alguma conversa com Pinto da Costa sobre isso?
O Presidente foi o primeiro a manifestar-me total confiança no nosso trabalho
Acho estranhíssimo que se pense que uma pessoa que se distingue pela Inteligência e pela Intuição, que tem ganho títulos, uns atrás dos outros, fosse apostar em mim a pensar que eu ia falhar. Dá para acreditar nisto?! 
Olho para o meu trajeto e não estranho que, de fora, me coloquem em dúvida, porque eu sei de onde vim - a última equipa que eu tinha treinado foi o Santa Clara, da II Liga. Mas eu presto provas todos os dias, pois sei que tenho de ganhar mais, sei que há muita gente que gostaria de treinar o FC Porto
Pôr em causa o treinador é uma forma de desestabilizar um clube que tem ganho tantos títulos, porque o ganhar desgasta, mas desgasta os outros e não se olha a meios para atingir fins. Sei que era eu "que estava mais à mão", eu é que vim de adjunto... 
Às vezes entristece-me que se diga que na época passada se ganharam tantos títulos e parece que eu não estive cá, que vim de férias, vim de qualquer lado, caí de pára-quedas... Falam como se não tivesse estado, mas estive e ajudei nessas conquistas!

Sentiu-se um alvo fácil?
Eu era o que "estava mais à mão", o alvo mais fácil. Mas isso torna-me muito mais forte. 
Sem competência não há quem resista; a "Estrutura" pode ser muito forte, mas sem competência não há hipótese... Eu cheguei a ler coisas... Não me dói por mim, porque sei bem no meio em que estou. Agora, os meus filhos... Os meus filhos e os amigos dos meus filhos também vêem televisão, também lêem jornais.... Os meus filhos chegaram a casa a dizer: "Ó pai, vais sair? Eu até chorei". Isso é que me custa... 
Eu cheguei a ler que até um macaco, com a estrutura do FC Porto, seria campeão. Isso é a maior falta de respeito pelos outros adversários todos. Isso pode-se pensar, mas não se pode dizer. É uma vergonha! 
Hoje estou mais preparado, mas houve momentos em que pensei que era demais para mim. Estive firme nas minhas convicções, só assim conseguimos chegar ao fim e ganhar o campeonato. E com todo o mérito! Não é só demérito dos outros! O Real Madrid não ganhou também com o demérito do Barcelona? 
Aqui, em Portugal, o campeonato foi competitivo enquanto teve o benfica na frente, continuou espectacular quando foi o Braga, depois passou o FC Porto para a liderança e lá se foi a «qualidade» num «campeonato nivelado por baixo»... Depois vejo que tivemos mais golos marcados, menos golos sofridos... É esta a equipa que foi martelada todo o ano porque jogava mal? Temos de ser coerentes e não nos deixar levar na onda. 
No final da época, tiveram de se engolir muitos sapos...


  
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Retratou-se de um discurso mais duro que teve inicialmente para com o treinador do benfica. Porquê?
Não fui autêntico, provavelmente por defesa. Estava numa perspectiva defensiva, porque os pontos de interrogação começaram logo no início e eu fechei-me, e fui reactivo, reagia com agressividade. Um treinador amigo dizia-me que amigos dele lhe comentavam que eu me tinha tornado agressivo e arrogante e ele achou estranho. Acho que aconteceu inconscientemente, para me defender. Não estava preparado para ser atacado por toda a gente, quase que me senti humilhado, parece que tinha deixado de perceber de futebol. Aquele Vítor que muitos perspectivavam que pudesse ir longe, parecia que tinha deixado de existir. Depois percebi que as pessoas não me conhecem e passei a encarar as coisas com naturalidade. 
Quando disse o que disse sobre o Jorge Jesus, não fui eu próprio e aquilo fez-me mal. Provavelmente, fez-me pior a mim do que a ele. Nunca mais me senti bem comigo próprio, porque não posso avaliar as pessoas e eu avaliei o Jorge Jesus como pessoa. Não posso fazê-lo, porque não o conheço como pessoa. Não fui correto e por isso pedi desculpa e fiquei muito melhor comigo próprio.
Certamente que vou continuar a cometer erros, mas também a reflectir melhor sobre eles, para que não voltem a acontecer.


 
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A esta distância, compreende a decisão do André Villas-Boas há um ano?
O André é um portista, atenção... "Daqueles" portistas! Ganhou tudo... Sair do clube do coração bem por cima deve ter pesado um bocadinho... Se fez bem ou mal, só ele o poderá dizer. Não faço ideia do que faria no lugar dele... Ficava-me bem dizer que teria ficado, mas não posso dizer.... Só quando confrontados com as situações é que percebemos....
Eu decidi ficar consoante o que senti no momento, senti que devia cá estar. É preciso que se saiba que eu vim para o FC Porto convidado pelo FC Porto, não pelo André. Se fosse ao contrário - e isso digo-o com certeza absoluta -, se fosse o André que me tivesse convidado, se eu tivesse entrado com ele, teria saído com ele, disso podem ter a certeza absoluta, porque só estou na vida desta forma. Não estou para me aproveitar das oportunidades que outros me criaram. Tenho uma relação de amizade com o André porque foi tudo feito com clareza.

Por que sentiu, então, que deveria ficar?
Porque esta era a equipa que eu queria treinar, sabendo que seria uma época muito difícil. 
Mas seria fácil para algum treinador do mundo? Não seria, de certeza. Apesar de os jogadores serem os mesmos, não eram os mesmos...
Como já o afirmei, acho perfeitamente normal. Tinha estado por dentro de todo o processo, mas como colaborador. Eu vim de treinar o Santa Clara na II Liga, é natural que a minha competência noutras funções tenha sido avaliada, como eu avalio os jogadores que chegam. 
Naturalmente, passámos por um período em que senti que eles andavam a ver o que é que tinham...
Levámos tempo a perceber a dinâmica entre nós e o que cada um poderia dar... 


 
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Nem benfica, nem Braga, muito menos Sporting. 
Para ser campeão, Vítor Pereira teve de olhar para dentro e cerrar fileiras. Sabe, porém, que a concorrência quer dar o salto e que isso vai exigir mais de um dragão que também quer crescer na Europa.

O FC Porto não falhou nos jogos decisivos em Portugal. 
Tendo escorregado em outros, isso tem que ver com a tal descompressão que apontava?
Quando se sente que o desafio não é desafiante, temos um problema. Foi o nosso maior problema, aliás: dar uma dimensão desafiante aos jogos teoricamente menos complicados. 
Não tenho qualquer problema em admiti-lo e penso que os jogadores têm consciência disso.

Em que momento da época é que acha que a mensagem passou de forma definitiva?
Ganhámos em Coimbra 3-0 para o campeonato e as coisas aconteceram naturalmente nesse jogo, nem tivemos de acelerar muito. Isso foi um problema e quando lá fomos jogar para a Taça de Portugal, pensávamos que o jogo do campeonato iria repetir-se. Deixámos correr o tempo, fomos afastados e foi esse o momento em que tomámos consciência.

Mas mais à frente, em Barcelos, viu-se uma exibição muito parecida...
Basta situarmos o jogo no tempo. Foi a nossa única derrota... Era mais bonito ser campeão invicto, mas não foi possível. 
Lembro-me de que foi a três dias do fecho do mercado; esse momento mexeu com os jogadores, percebi isso claramente. Mas isso é intrínseco ao ser humano, como já o disse. Outro exemplo: até o jogo em Alvalade foi um mau jogo - um jogo de transições constantes, com as equipas sempre partidas, sem sequências de quatro ou cinco passes que fosse. E quando foi esse jogo? No início de Janeiro...

Houve jogadores que tremeram em Janeiro?
É outra vez a questão das expectativas. Não mexe só com os jogadores do FC Porto, mexe com todos os jogadores, em todo o mundo.

Fazendo um balanço de tudo o que disse até agora, o FC Porto foi o seu maior adversário?
Acho que sim. Não tenham dúvidas nenhumas. Não foi o benfica, não foi o Sporting, não foi o Braga, foi a própria equipa. Fomos nós o nosso principal adversário. Por todos estes motivos. E temos consciência disso.

Eliminando o efeito novidade, de onde espera que venham as dificuldades na próxima época?
Espero uma época mais forte do que esta, mas mais tranquila também. 
Os jogadores do FC Porto são constantemente procurados por outros clubes - esse é um ciclo que se repete. Mas, pela experiência adquirida, pelo conhecimento que temos uns dos outros, acredito que faremos uma época mais forte e mais consistente.

Nessa linha evolutiva, de que jogadores espera mais na nova época?
De todos eles. E de mim próprio. 
Quero um jogo que nos permita ser mais fortes na Liga dos Campeões e na Taça de Portugal, naquelas competições onde queremos estar em melhor nível.

Foi uma desilusão a última época europeia do FC Porto?
Se, no jogo contra o Zenit, em casa, tivéssemos concretizado metade das oportunidades que criámos, teríamos sido primeiros no grupo. Foram pormenores, decisões no último momento... 
Na Liga Europa, a eliminatória com o manchester City foi disputada de igual para igual e conseguimos impor o nosso jogo em grande parte dos confrontos, mas cometemos erros em momentos cruciais que ditaram o nosso afastamento...
Não posso negar que foi uma frustração para mim e para todos.

Os jogos europeus colocam desafios muito diferentes?
Na Liga, vivemos de dois momentos: a posse e a transição defensiva, a reacção agressiva na perda de bola. 
Na Europa, temos de ser consistentes na organização defensiva e nas transições ofensivas, assim como nas bolas paradas. A Europa obriga-nos a ser uma equipa culta e adulta nos vários momentos do jogo.

Que desafios espera de benfica, Braga e Sporting na próxima época?
O benfica já não cometeu os mesmos erros do ano anterior; o Sporting já não ficou a trinta e tal pontos; o Braga aproximou-se. 
A época anterior foi uma época atípica, por mérito do FC Porto, mas muito demérito dos outros também. 
Este ano foi taco-a-taco, com um grande desgaste... 
A tendência é para que as equipas que não ganharam já estejam a trabalhar no pormenor, no que falhou. Nós temos de fazer o mesmo.


 
© ionline


O que o levou a insistir com Hulk a ponta de lança?
Porque senti que era ali que ele mais nos poderia ajudar. Às vezes ouço críticas e questiono-me... 
Eu, em toda a minha vida, reflecti sobre o Futebol. Se quisermos falar sobre Futebol, eu falo e argumento, seja com quem for, porque experimento e reflicto no terreno... 
Assim, estranharia é se eu não conseguisse ver que o Hulk é muito mais forte à direita, naquele tipo de movimento em que ele é um desequilibrador. Seria estranho não ver isso, ainda para mais trabalhando todos os dias com ele. Mas se entendia que a equipa precisava mais dele ao meio, foi porque a dinâmica que faltava naquele momento o exigia ao meio - e mesmo sabendo que ele rende mais à direita. Decidi em função das necessidades da equipa. E, como o Hulk é humilde, percebeu o que a equipa pretendia dele, naquele momento. No meio, deu-nos o que esperei, essencialmente nos jogos de decisão, que vencemos.

Perante as críticas de que falou - e que foram recorrentes e transversais -, nunca vacilou nas suas convicções?
De outra forma não teria ganho o campeonato.

Mas não reconheceu validade em algumas críticas? 
A utilização do Maicon à direita, por exemplo... 
Respondo da mesma forma: então eu não sei que o Maicon é muito mais central do que lateral?
Naquele momento - repito: naquele momento específico do campeonato -, senti que não tinha uma solução que me transmitisse mais confiança do que ele - pela forma de trabalhar, por estar focado no nosso jogo e nos nossos objectivos... Senti que o Maicon, naquele momento, era a melhor solução, mesmo que não me desse, ofensivamente, aquilo que uma equipa como o FC Porto precisa.
Eu não vejo menos do que os outros.

São questões de balneário, portanto...
São questões de trabalho!
Quem me transmite confiança no trabalho, eu conto com ele. Naquele momento, os outros não me transmitiam confiança. E ponto final. Só isso. Eu é que tenho de decidir, e hoje decidiria exactamente da mesma forma.

Pensa que isso foi importante para o crescimento dele?
Não tenho dúvidas absolutamente nenhumas. 
Deu-lhe a confiança que lhe faltava, para sentir que tinha espaço e que tinha qualidade.

O Maicon é o seu "troféu pessoal" mais emblemático? 
Os treinadores gostam de reclamar méritos no crescimento dos jogadores...
Há treinadores que gostam, mas eu não gosto.

Porquê?
Porque o mérito é do jogador. 
O treinador trabalha aquilo que é colectivo; depois há o talento e o mérito dos jogadores, integrados na nossa dinâmica de jogo e com as correcções que temos de fazer.

Exclui-se desse salto?
O crescimento que eu tenho de promover é o crescimento colectivo.
Eu não estou com o Maicon a fazer trabalho específico! 
O meu trabalho é o colectivo e, dentro deste, há jogadores que crescem mais e que aproveitam as oportunidades.





Já percebeu onde é que o James se sente melhor?
Se eu pedir ao James para jogar num corredor, ele não consegue...

Mas não foi isso que lhe pediu na maior parte dos jogos?
É claro que sim, mas não quero que ele nos dê sempre "banana" ou "maçã" a comer. Eu quero é que ele nos dê aquilo que os outros não esperam. Quero que seja ele a procurar, mas sem desequilibrar a equipa... 
Quando a dinâmica na frente é grande, essa factura paga-se no momento da perda de bola. É preciso rigor posicional. Portanto, eu dizer-lhe: "James, tu vais jogar só num corredor, ok?", nunca na vida! Não posso é permitir que ele se lembre de se juntar ao Hulk na direita, porque, se o fizer, desequilibra a equipa na perda. 
Eu só tenho de organizar em função do que ele me dá, mas não pode ser a anarquia total nos três homens da frente. Nunca lhe disse para jogar sempre no corredor, mas também nunca lhe disse para jogar sempre dentro, porque essa alternância entre o dentro e o fora, o alto e o baixo, é que cria a diversidade, a qualidade de jogo. Tem é de ser ele a procurá-la, eu deixo que o seu talento seja exposto em prol da equipa, não o deixo é desequilibrar a equipa.

Isso explica que, muitas vezes, tenha preferido o Varela?
Motivou críticas, mas é preciso encontrar equilíbrios na equipa. 
A função de um treinador é aproveitar o talento sem colocar em causa a equipa. A própria equipa o exige quando sente que o desequilíbrio está a surgir por incumprimento táctico, aqui ou acolá. A equipa não gosta disso; a equipa começa a perceber que alguém está a falhar, e se alguém está a falhar tem de se chamar a atenção para isso.

Então, o James vai ser o quê?
O James é um jogador de grande talento, que cresceu do ponto de vista defensivo, porque o seu grande problema era não ter essas preocupações. Retirava-nos qualidade do ponto de vista defensivo, mas percebeu que é preciso ser agressivo na perda de bola, é preciso jogo posicional defensivo, que não podia haver anarquia... Foi aprendendo, é inteligente. 
Para mim não é um ala puro, mas tem que lá aparecer também, porque tem um cruzamento de grande nível, cria situações de ruptura sem precisar de velocidade, de ir para cima, de rasgar. Tem uma capacidade de decisão enorme e uma capacidade técnica enorme, mas tem de pôr ao serviço do colectivo o jogo dele. Não o podemos amarrar, porque é entre o meio e a ala que ele se sente bem.
 
Já é "produto táctico acabado"?
Vai continuar a evoluir, a ganhar peso e estatuto. 
Só espero que isso não lhe retire a humildade, porque com isso perderia tudo.

O James está preparado para pegar na equipa como o Hulk pegou esta época?
É um jogador diferente do Hulk, mas tem maturidade suficiente e já o provou. 
Chegou muito novo, mas não tem medo de assumir as coisas. Há uns meses sentíamos que ainda tinha dificuldades nos jogos grandes, mas neste momento acho que está preparado para jogar contra qualquer equipa. 

E por falar no Hulk. Depois dos dois golos marcados à Dinamarca - os seus primeiros pelo Brasil -, é natural que a sua cotação no mercado dispare mais um pouco.
Assim sendo, é inevitável que seja transferido? 
O Hulk é super, é um jogador de um nível elevadíssimo. 
Neste momento é nosso jogador, trabalho a pensar que ele fica, mas tenho de estar preparado para a sua saída. Gostaria que continuasse mas, se não for possível, teríamos de dinamizar o ataque de outra forma, pois a sua saída teria implicações na forma de definir os lances de ataque da equipa. 






Com 31 anos, fisicamente diferente do jogador que chegou à Europa em 2005, Lucho pode aguentar a próxima época a um nível alto?
Claramente. 
Fui criticado pelo triângulo do meio-campo, a questão do duplo pivô. O Moutinho será sempre um "8" que gosta de vir atrás, pegar no jogo a partir de trás e nunca na vida será um pivô. 
A minha perspectiva de treino não é organizar o meu jogo. Se assim fosse, estaria limitado àquilo que sou capaz de imaginar. Mas, na verdade, os jogadores conseguem dar-me muito mais. Eu só organizo aquilo que eles me podem dar. O Moutinho movimenta-se em função da qualidade que tem e eu não quero formatá-lo, não quero que ele jogue o meu jogo, não quero dizer-lhe que ele tem de fazer isto ou tem fazer aquilo. Só ajudo a organizar esse jogo. 
Com o Lucho é a mesma coisa: quem sou eu para lhe dizer para não baixar, para não receber entre as linhas, para não jogar nas costas do adversário? Mas quem sou eu para dizer ao Fernando para aparecer na área a finalizar? 
Eu só vou modelando e, para mim, essa é a função do treinador. Só tenho de tirar partido do potencial de cada um. Se sentir que há desequilíbrios, vou equilibrando... 
"Isto" para mim é treinar.

Reforço de inverno, Lucho pareceu capaz de congelar a emotividade do balneário. 
Foi mesmo assim?
O Lucho não é de falar muito, comunica muito mais sem falar. 
O Lucho é sério, encara a sua profissão com seriedade, e trouxe-nos tranquilidade, experiência acumulada e qualidade.




Sente necessidade de outro tipo de soluções para além de Kléber e Janko?
Julgo que é consensual que precisamos de uma alternativa.
Vamos procurá-la e trabalhar nesse sentido.

O Jackson Martínez pode ser esse jogador?
O Jackson Martínez ou outro jogador qualquer que o clube entenda que tem qualidades que acrescentem alguma coisa.
Mas conhece-o? Que opinião tem dele?
Como deve calcular, observo jogadores durante todo o ano. Mas só falo dos meus jogadores e o Jackson Martínez não é um dos meus jogadores.
Identificou carências no plantel?
Está equilibrado, mas precisamos de um ponta-de-lança sim! - que tenha características diferentes, que não diminua os pontas-de-lança que já temos.
Que características são essas?
Quero um jogador que possa ir no espaço, mas que também possa vir em apoio. Um jogador que consiga ser explosivo, o que não é fácil encontrar.
Mas é isso que procuramos: um jogador que na área seja capaz de finalizar pelo ar e no chão.


 
© jn.pt

Por último, quero deixar uma mensagem de agradecimento aos adeptos e às claques, que muito nos apoiaram neste percurso. 
A todos eles, o meu "muito obrigado!".

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fonte: fc porto para sempre (OJOGO

entrevista de: André Viana e Jorge Maia (OJOGO)
ps: os negritos, os itálicos e os sublinhados são da minha responsabilidade.

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