sábado, 13 de agosto de 2011

do "café central"


caríssima(o),

depois de uma semana (literalmente) "de papo para o ar", a descansar o corpo e as ideias numa muito nossa aldeia transmontana, esta é a minha impressão das gentes lusas "perdidas" no Interior  do nosso "rectângulo à beira-mar (im)plantado"®: são desconfiadas por natureza e por defeito, um pouco "rudes" no trato, "brutas" no conceito e na concepção da Vida e bastante afectuosas quando confiam em nós (mas só ao fim de algum tempo). a minha permanência na periferia do concelho de Alfândega da Fé (distrito de Bragança), não alterou esta minha posição sobre o nosso "Portugal real" e mesmo que esteja turva e/ou distorcida pela minha visão pouco romântica e (quiçá!) mimada de "menino da cidade".

para além daquelas características e da intrínseca inveja miudinha, que se (pres)sente - o verdadeiro mal nacional e raiz onde assenta o nosso atávico atraso, ao que os "modernos" epitetam de «crise» - tenho que referir o epi-fenómeno local do "café central". quem não sabe do que escrevo, não sabe o que é a vida numa qualquer aldeia lusitana. o "café central" é património indissociável da nossa portugalidade e a aldeia onde estive não é excepção!
o epi-fenómeno do "café central" assenta na simplicidade da seguinte regra de três simples: para além de (literalmente) ser o (re)pouso do(s) seus(s) bêbado(s), é também e principalmente o ponto de convergência das suas gentes, o local de referência para se sentir o seu pulsar, bem como o palco privilegiado da verbalização de alguns pensamentos profundos dos seus mais ilustres e assíduos frequentadores, como os do Tio Belarmino (um poço de sabedoria).

as agruras de uma vida dura, suada pela enxada nos campos herdados dos avós, é atenuada ao sabor de um café com o respectivo "mata-bicho", de (pelo menos) uma "cuca" bem geladinha e de uma boa conversa, de preferência com uma partida de futebol como pano de fundo e independentemente dos clubes envolvidos. é que o clube  que ainda impera nos "cafés centrais" em terras lusas é o «glorioso» clube que ficou a vinte e um pontos (!!) do FC Porto na época transacta.
mas, tal como o número de títulos conquistados na sua centenária história já bastou para suplantar os ganhos pelos coisinhos - taças latinas incluídas e para a contabilidade daqueles -, também acredito que aquela é uma realidade em permanente mudança e que mais uma geração bastará para que passe a ser composta em tons mais condizentes, i.e., de azul-e-branco.

no epi-fenómeno "café central" também há a nuance de ter que se assistir a um jogo de futebol em "terreno alheiro"® e gramar com as bojardas dos adeptos do clube rival. o Domingo passado, dia de Supertaça ante o Vitória, não foi excepção. enquanto assisti à conquista da décima oitava Supertaça Nacional Cândido de Oliveira (a terceira consecutiva, feito inédito num clube luso) num café central de uma aldeia do concelho de alfândega da Fé, temi pela minha sanidade mental. e porquê? porque, tal como a «gloriosa» e única perpetualização da conquista de um título nacional pelos coisinhos em tempos idos (mas já não a preto-e-branco), eu também era exemplar único naquele recinto. ;)
sim!, é verdade! a 07 de Agosto de 2011, aconteceu ser o único adepto portista num total de vinte clientes habituais naquele "café central" (contei-os eu, com estes que ainda sabem fazer contas).

cheguei ao "café central" pela fresquinha das 20h30m, já o calor abrasador se desanuviava e a pressa de chegar era mais do que muita, por forma a reserBar um lugar nos catiBos das mesas mais próximas da tB. normalmente nestas situações costumo fazer-me acompanhar do meu leitor de mp3, para me distrair dos comentários em meu redor, concentrar-me no jogo e porque o Artur Jorge tinha razão quando aconselhava a se ouvir música enquanto se vê um jogo de futebol (se bem que eu sou mais heavy do que clássica...). naquele Domingo esqueci-me do equipamento em casa. e, por um lado, ainda bem, ou não estaria aqui a massacrar-te com esta estória. e porquê? só por isto:

quando cheguei, os ânimos estavam elevados e a moral muito em alta, com a vitória de véspera do 5lb ante os ingleses do Arsenal («uma potência! uma equipe de topo, que já deu cinco aos corruptos e que nós já vencemos por mais do que uma vez!»); com mais um golo do Nolito («este gajo veio do Barcelona! não veio de um clubezeco do Brasil, no meio da fruta, ou de um qualquer clube da Roménia, juntamente com as Svetlanas»); com as opções do Jorge Jesus («um treinador ímpar quando não inventa. é ele e o Mourinho! qual [Libras-Boas], qual quê! e o Jesus não é nenhum Judas!»); com a importância da conquista do "troféu" em questão («este é mais um que os corruptos não hão-de-conseguir! quem foi o "Eusébio" do FC Porto, quem foi? Eusébio só há um! e é do 5lb!»). curiosamente, sobre a venda do passe do Roberto e do que ela encobre, nem uma palavra, a não ser para louvar a gestão desportiva do Orelhas («o Pinto da Costa tem a mania que é o maior. deveria era aprender com o Vieira a fazer negócios de milhões! os da treta têm muita fruta à mistura!»). a todos estes dizeres da "vox populi" local eu sorria. e escrevia. muito! não queria perder nenhum, para registar para a posteridade e para memória futura. penso que consegui. ;)

também ansiava pelas 21h. e não estava sozinho nessa angústia: «oh pah! o Guimarães vai limpar o sebo aos corruptos! vais ver! vai ser limpinho! que gozo que vai ser. até vou dormir melhor esta noite!». e ainda: «estes gajos sem o Falcao não são ninguém! o Hulk fica sem uma referência na área e vai cruzar sempre para o espaço vazio!». gargalhada geral.
entretanto eu pedia mais uma geladinha. o jogo estava prestes a começar.

só ao fim de trinta e cinco minutos é que as vozes da reacção se fizeram sentir, e todas numa mesma direcção: a minha, denunciado que estava o meu fervor clubista a partir do quarto minuto de jogo. o grito de «goolooo!» deve ter ecoado até ao centro da sede de concelho, pelo menos!
àquelas vozes respondi com a indiferença do momento que consegui suportar e com a convicção de que seríamos FC Porto, i.e., de que daríamos a volta a um revés fortuito e que sairíamos vencedores de Aveiro «mais uma vez, como em 2010». estávamos a praticar um bom futebol (para início de época, e muito superior ao do Vitória - uma equipa inexistente) e não seria um acaso que me iria fazer pensar de maneira diferente. efectivamente aquelas vozes fizeram-se sentir por pouco tempo, com o bis do Rolando. «este gajo não era para ir para a Juventus? ou era para o Chelsea?». «que eu saiba, ainda faz parte do plantel do FC Porto...», foi a única vez que abri a minha boca para responder à filha da putice daquelas provocações baratas.

para finalizar, convém salientar que, para além de mim, só o lampiónico dono do estabelecimento comercial ficou para assistir à entrega do troféu - acontecimento que estive para não ver devido à "cortesia" da RTP, que alternou a emissão com a RTPN, a qual estava a transmitir publicidade (!!) no preciso momento em que a transmissão foi interrompida no primeiro canal.
mais uma vez ficou bem patente o que a estação pública de televisão entende por «serviço público» e a animosidade de quem dirige os seus destinos - independentemente de cores partidárias - para com as conquistas do FC Porto - e para não mencionar que prefere expeditar enviados especiais para acompanhar a digressão do Real Madrid aos estates e à China, ao invés de noticiar condignamente a campanha da Selecção Nacional de Sub-20, no mundial da categoria, em disputa na Colômbia.

beijinhos e abraços (triunfantes)!
e Muito Obrigado! pela tua visita :)

sugestão musical:

3 comentários:

  1. Meu amigo, lembras-te do nosso épico 3-2 ao Benfas no Dragão (último golo do Bruno Moraes?). Eu estava num restaurante com mais de 50 pessoas aqui na Figueira e só na minha mesa havia portistas. Imaginas o que foi quando o Benfas virou o resultado? Já havia dezenas de dedos médios virados para a nossa mesa e tememos um linchamento... Mas eu aguentei com calma, e até ao fim do jogo ainda levantei os meus dois dedinhos médios para aquela populaça. Belo jogo.

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  2. Começámos da melhor maneira o campeonato. Não pela maneira de jogar, mas pela conquista dos três pontos pontos.

    Num terreno (que de campo não tem quase nada...) muito difícil, contra um Vitória extremamente agressivo, conseguimos sobreviver e saímos de Guimarães com a segundas vitória oficial na temporada em outros tantos jogos. Uma das mais difíceis visitas já foi ultrapassada, agora é continuar a trabalhar para melhor cada vez mais o nosso jogo e revalidar o(s) título(s).

    Um abraço

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  3. caríssimos,

    obrigado! pela vossa visita e pelas vossas palavras, que muito honram este espaço ;)

    somos FC Porto!

    abraços

    ps:
    @ doctor J

    como poderia esquecer esse jogo? ;)

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(sendo que, num blogue de 'um portista indefectível', obviamente que esta caixa é destinada preferencialmente a 'portistas dos quatro costados'. e até é certo que o "lápis", quando existe, é azul.)

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